Vera Marmelo nasceu em 1984 no Barreiro, desde 2006 que fotografa com regularidade concertos e músicos portugueses. Já fotografou bandas como You Can't Win Charlie Brown, PAUS ou Orelha Negra. É autodidacta no que respeita a fotografia e dizem que faz parte da mobília da ZDB.
De onde vem o interesse pela fotografia?
Em 2002 começo a fotografar, com uma pequena digital do meu pai, concertos que aconteciam no Barreiro. Não conhecia as pessoas e esta era uma forma de entrar em contacto com elas. Já estava no IST, onde fiz engenharia, quando compro a minha primeira máquina, aprendo a revelar e ampliar no NAF. Nessa altura já era mais regular na movida musical do Barreiro e começava a frequentar alguns concertos em Lisboa. Fotografava cada vez mais, chegava a casa revelava os rolos à noite, na manhã seguinte estavam secos e prontos a digitalizar. Desde sempre que tenho um scanner de negativos. Na verdade a minha ligação à fotografia acontece a par da minha ligação à música. É o meu instrumento, a minha desculpa para estar sempre presente e a minha maneira de contribuir para divulgar os músicos que acompanhava.
Como descreves a tua fotografia?
Cada vez mais o feedback que recebo remete para palavras como “intimidade”. A intimidade possível quando estás a fotografar em ambientes de concerto e backstage, óbvio.
Confundo cada vez mais os meus momentos de “vida pessoal” com os momentos em que estou a fotografar, portanto sim, haverá um caracter de proximidade.
Que equipamento e lentes usas nas fotos que mostras aqui?
Bronica zenza, uma médio formato, 6x4.5.
E películas preferidas?
Ilford HP5. Recentemente tive resultados muito bons com o Ektar da Kodak, o que não é comum. Tenho muito azar com cores.
Em concertos usas uma câmara digital, fora disso usas uma câmara analógica. Porque insistes em fotografar com película?
Uso a digital em mais do que concertos. Tenho uma full frame todo terreno e uma lente 50mm apenas.
Uso a bronica, a médio formato, com a lente de 75mm sempre que quero fazer retratos especiais. Sempre que há mais disponibilidade por parte dos fotografados, sempre que quero fazer e ter um momento mais especial com alguém. A opção não acontece pela ideia de fotografar com película. O meu gosto em usar a bronica é mais pela fisicalidade da coisa. Estou convencida que a partir do momento em que não encaro alguém de frente, tendo de me curvar para fotografar, parto de uma posição mais equilibrada e justa entre os dois. Sou obviamente mais lenta e cuidadosa a fotografar com filme. Não temos hipótese de ver os resultados no momento, o que me agrada particularmente e na verdade tento fazer também quando fotografo com a digital. Depois o formato agrada-me bastante. Não gosto do quadrado, o 6x4,5 é perfeito para mim. Deixo sempre a frame preta do negativo a controlar o retrato, não por pudores relativamente aos crops, apenas porque tenho tempo de decidir o que é melhor e como tal sei que quero tudo o que está entre as linhas pretas. Depois óbvio que há uma magia especial nas texturas que se observam quando fotografas com filme, há o inesperado, há a espera (que na verdade não é muita) e há o risco de correr tudo mal e teres a hipótese de te encontrar com o retratado novamente.
E porque não usar uma câmara analógica nos concertos?
Durante uns bons 4 anos fotografei com filme. Fiquei desde então muito poupadinha nos cliques. De quando em quando ainda acabo um rolo ou outro ao vivo. Mas por questões de rapidez e dinheiro prefiro fotografar com a digital.
Ainda processas os teus filmes? Se sim porque ainda o fazes?
Nunca entreguei um preto e branco numa loja. Faço-o porque confio mais em mim do que no tipo a quem dou os rolos, porque assim tenho o rolo que fotografei no sábado pronto a digitalizar no domingo. Faço-o porque fica mais barato e porque são 30 minutos de silêncio, muito raros, a sentir o tempo a passar.
Referências na fotografia? algum fotografo decisivo na tua vida para também quereres ser fotógrafa?
Há um músico de que gostava muito há uns 10 anos atrás, o Devendra Banhart. O Devendra tem uma amiga dos tempos de escola que sempre o fotografou. Chama-se Lauren Dukoff e é uma das minhas favoritas. Acho que nem a encaro como uma motivação para fotografar, mais como uma motivação para te juntares a quem fotografas com o coração. Ela faz parte daquele grupo de amigos, de músicos e sentia a urgência de documentar as suas vidas. A Lauren tem a minha idade e tem um início e razões para começar muito parecidas às minhas. O seu trabalho é um exemplo de beleza e simplicidade incrível. Só usa filme. Sempre quis uma mamiya porque é essa a máquina que ela usa.
O panorama da música indie portuguesa é um nicho, acabas por ficar amiga dos músicos? Achas que essa intimidade torna as tuas fotos especiais?
Obviamente que sim. A minha relação de amizade e proximidade com estas pessoas facilita-me a vida de uma forma incomensurável. Aliás, a minha vontade e disponibilidade para os continuar a acompanhar é justificada pela minha vontade de estar na companhia de pessoas que são minhas amigas e que me tratam tão bem. Havendo essa relação de bem querer, é quase comparável a um pai fotógrafo que tem prazer em registrar a vida do seu filho.
O que te inspira?
Os meus amigos.
A música que os meus amigos fazem.
A energia de pessoas, o que as pessoas podem construir de belo, conversas interessantes, pessoas que fazem acontecer coisas bonitas, que fazem as outras pessoas se sentirem bem.
A beleza e o carisma de desconhecidos.
Todas as fotografias da autoria de Vera Marmelo e publicadas com permissão.
cargocollective.com/
v-miopia.blogspot.com
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